quarta-feira, 19 de maio de 2010

O administrador dos Céus

Eu,o altíssimo, criei este mundo a princípio para um único homem- Adão que por sua vez em sua expressão mais tenra exigiu uma companheira, confesso que me orgulhei profundamente ao me inteirar que minha criatura era solidária a ponto de desejar dividir com alguém todo o paraíso a qual eu havia lhe concedido e por isso acatei seu pedido criando Eva. Mas Eva era uma mulher e como tal buscava sempre o melhor e a serpente do mal consciente disso revelou um dos meus maiores segredos o fato de que o meu Jardim do Éden era um fator pscicológico e somente por essa via poderia ser mantido assim nada mais pude fazer do que observar o casal deixar os meus átrios rumo á algo que sabia de antemão que não traria a satisfaçaão pessoal. Em seguida meus querubins cercaram meu trono celestial marcando uma reunião como se fossem investidores de um projeto que parecia se revelar um fracasso, me lembraram que antes da criaçao vetaram o aparecimento do homem sob a face da terra não tanto pelos pecados que viria a cometer mas sim pela sua crescente insatisfação com tudo e com todos a qual seria muito difícil de ser administrada até mesmo por mim o onisciente;onipotente mas como sou o todo-poderoso refutei todos os argumentos perspicazes dos anjos e dei fim áquela baderna celestial afinal eu sou o acionista majoritário desta empreitada e amava as minhas criaturas insatisfeitas antes mesmo de ter dado vida á elas. A vida seguiu seu rumo e Eva deu á luz á Caim e Abel encontrando a felicidade ,que havia perdido ao comer o fruto proibido, no amor áos seus filhos, Adão e Eva a esta altura tambem já desfrutavam de uma serenidade e paz interior; uma espécie de satisfação que os homens só chegam a conhecer em uma idade madura e dessa vez eu convoquei uma reunião com meus arcanjos fazendo questão de zomba-los por suas previsões estapafutas e gritar bem alto, em ventos quentes que percorreram desde a Babilonia até o Egito, que o propósito da criação estava sendo alcançado quando uma mãe demonstrava seu amor pelo filho e o provia de todas as suas necessidades. Alguns anos se passaram e o meu deleite nos céus foi imterrompido quando detectei uma cíumera boba e infantil; uma insatisfação de moleques que ainda nada viram da vida entre Caim e Abel que acabou levando á trágicas proporções com a morte de um dos dois não me lembro qual exatamente porque decidi apagar de minha memória todos os atos nefastos que profanam a minha criação mas devo dizer que após esse primeiro assassinato da história quem perdeu a motivação mais do que ninguém foi eu mesmo me questionando em minha infinita sabedoria se o custo- benefício valia a pena mas como a bondade e a misericórdia são minhas marcas registradas deixei a vida continuar. O tempo continuou a deixar suas marcas e as proles davam origem a inúmeros e numerosos povos que se espalhavam pela terra cada um adquirindo suas próprias particulariddes e eu o Rei do universo concedi a chuva na hora e na quantidade certa para que eles não passassem fome nem sede pois amava a cada um deles no entanto estes povos amavam coisas fúteis , e não se contentaram com a primeira definição de burguesia que eu criei com o único propósito de preencher o vazio que imperava nos corações dos descendentes de Eva, não tardando a fazer o que era mau aos meus olhos. Os anjos descabelaram seus charmosos cachinhos dourados como investidores que descobrem possuir ações que não valem quase nada e eu por fim decidi inundar a terra dado a falta de arrependimento por parte de minhas criaturas.
Inundei tudo mesmo pois se aquilo que os dava com tanto amor e carinho não lhes era suficiente então não eram merecedores de nada mas como voces sabem encarreguei Noé da construção de uma Arca que visava garantir a sobrevivencia de sua família; a dos animais a qual tambem adoro de paixão e a sua própria. Estes dias onde este pequeno contigente se encontrou confinado na Arca foram ainda mais difíceis e dolorosos do que aquele na qual Adão e Eva me deixaram pois dada a perspectiva de lá de dentro me suplicavam para baixar os níveis das águas e eu me irritei com essas pregarias porque esperava um pouco mais de compreensão por parte deste grupo que estava destinado a repovoar a terra afinal é verdade que sou o todo-poderoso mas ainda sim sou um só e foi para evitar que esses tipos de chateações cheguassem novamente aos meus ouvidos que instrui Avraham de Ur a contar de geração em geração que o Deus deles é um só e essa foi uma excelente idéia pois seus descendentes , o povo judeu, levaram o conselho tão a sério que o transformaram em oração recitada tres vezes ao dia mas voltando á Arca o que esperavam que eu fizesse ? Um fenomeno de tamanha magnitude não poderia ser feito num dia e as suas problematicas resolvidas no seguinte mas quanto a isso não liguei tanto o que verdadeiramente me causou preocupação foi perceber que Noé e sua familia ao ver toda aquela água entravam em depressao ao não conseguirem imaginar o que poderia ser feito em um mundo tão desolado?. Eu mesmo sendo o dono de toda a sabedoria do universo tive muita dificuldade em entender o que poderia servir de motivação ás minhas criaturas pois a geração anterior havia trazido a destruição a si própria em função de um egoísmo que impossibilitava fulano de dividir a terra com ciclano e agora que com o dilúvio se abria a oportunidade de ter o mundo inteiro a disposição uma excelente hora para inventar o termo real state e viver bem de acordo com aqueles valores burgueses das quasi eu já havia permitido que se desenvolvessem, achavam tal cenário pouco animador e até trágico, quando entendi que se deprimiam pela mais pura condolencia e não pela percepção de que uma economia com uma dúzia de trabalhadores e animais dotados somente com instinto de sobrevivencia dificilmente chegaria a um crescimento superior a 10% nos primeiros anos o júbilo tomou conta de mim e inúmeros arco-íris foram vistos nos céus, voces já devem ter reparado do quanto eu gosto dessas questões humanistas e de um sorriso bem largo sob a face de minhas criaturas por isso em um piscar de olhos na medida convencional divina as águas voltaram ao seu volume normal e a vida prosseguiu.
Eu presenciei o nascimento de várias gerações após o dilúvio e todas elas sem exceção me causavam extrema satisfação mas quando estas cresciam seus egos inflavam e davam a sonhos mirabolantes das quais o homem cético do século 21 acharia mais fácil acreditar na minha própria existencia do que na realização destes mesmos, estes retrógados me deram muito trabalho no campo administrativo como é possivel gerenciar o universo todo com seres-humanos tão insatisfeitos na parceria por um mundo melhor ? Nessas condições o mais provavel a se esperar é o caos e não venham me culpar eu fiz e ainda faço minha parte mas frequentemente não recebo feed back positivo; um alentozinho que seja da maioria de voces, esta geração não satisfeita quando eu os empossei como senhores da terra começaram a construir uma torre em Babel para usurpar os céus das minhas mãos que audácia mas não deixei barato tomei uma única medida que entretanto se revelou bem eficiente, mudei uma configuração na criação e em um piscar de olhos na medida humana o mundo era poliglota e eu nem mais ninguem voltaria a empregar por questão de afeição tendo o homem que provar seu valor e constantemente superar problemas de comunicação e mau-entidos linguisticos, é claro que esta minha medida levou á taxa de desemprego mais alta conhecida por aqueles dias e a um nível recorde de miséria mas para todos estes desamparados eu estava lá afinal sou Deus. Eu poderia continuar contando em todos os pormenores os eventos historicos mas eles são por demais repetitivos e com a caracteristica comum de possuirem desmotivação em abundancia alem do mais o único que conta com a eternidade aqui sou eu por isso proponho pular lá para a Idade Média mais precisamente para o seu fim com a formação dos burgos, nesse período confesso que não sabia o que fazer porque se por um lado escutava os clamores de trabalhadores competentes que gostariam de lucrar em um ambiente livre e propício ao comércio pelo outro sabia que o abandono do feudo levaria á Revolução Industrial e ao decínio ambiental do planeta o que por sua vez traria aos meus ouvidos santos inúmeras orações em forma de pedidos para que eu retificasse a situação o que não é tão fácil assim devido a intensidade do estrago que viria a se produzir e a falta de políticas públicas eficientes na maioria dos países tanto do Ocidente quanto do Oriente aliás foi nessa mesma época que eu cansado de tanta aporrinhação decidi parar de dizer que sou um só, porque na prática só os judeus sempre acreditaram nisso e permiti que os ateístas se organizassem e ficassem visiveis aos olhos do mundo , aproveitando este momento que estou deixando tudo as claras queria deixar bem claro que nunca tive nada contra os ateístas pelo contrário gosto muito deles eles nunca me pedem nada nem me amaldiçoam por supostas mazelas em suas vidas se todos seguissem seus exemplos minha vida seria bem mais tranquila mas voltando ao assunto acabei cedendo e permitindo que os burgos se formassem ao ver o fanatismo do clérigo religioso e a presunção da nobreza dentro do feudo porque desde aquele episódio em Babel que de regra geral não permito que um homem prospere sem laborar mas algumas de minhas criaturas são tão submissas que as casas monárquicas pintaram e bordaram e francamente não sei de onde veio tanto rigor clérical eu posso jurar que de mim é que não foi porque nem ao menos sou religioso.
As cidades e seus centros comerciais floresceram; uma elite refinada,elegante, poderosa e obviamente menos chegada á mim agora dava as cartas nas grandes cidades, como o dinheiro lhes era o valor mais importante com todo o montante que eu lhes permiti acumular devem ter reconstituido o Jardim de Éden pelo menos umas trezentas mil vezes e com melhoras ainda em relação ao projeto original concebido por mim mas mesmo assim eu detectei nos corações dessas elites um desejo genuíno por uma idéia que começava a ser definida por estes dias como progresso, não era um capricho qualquer era uma vontade pura de mudar as bases da sociedade como a conheciam por aqueles tempos; uma semente revolucionária em pleno seio burgues. Eu concedi seus desejos porque calculei as vantagens do projeto e tambem porque sabia que eles tinham a única intenção de conquistar a terra deixando o reinos dos céus em paz, essa parte do desenvolvimento da civilização voces se lembram melhor eu sei é a base da sociedade em que voces vivem hoje, nela eu vi a aflição gerada pela espoliação e a desmotivação de inúmeros trabalhadores ao verem seus ordenados se transformarem em trocados mais rápido do que o aparecimento do crepúsculo e pela comoção despertada trouxe ao plano histórico revoluções sociais que ensinaram ao mundo novas e variadas formas de se lidar com os recursos e suas distribuições tanto para aqueles que agora defendiam idéias marxistas quanto para aqueles que se opunham a elas criando mecanismos para um capitalismo mais vibrante e participativo. Mas para cada ação há uma reação e para alguem em minha posição é extremamente frustrante ver que os efeitos de minhas medidas não contavam com a mesma eternidade da qual minha existencia usufrui, logo se revelou que no Oriente o homem sob intervenção comunista não se contentava em ter o pão sobre a mesa mas desejava aquele tudo que coubesse em sua imaginação enquanto que no Ocidente o homem já dispondo de tudo aquilo que sua mente pudesse formular só encontrava satisfação quando aquilo que possuísse fosse superior as possessões do vizinho. Eu que justamente por ser um Deus de bondade jamais neguei coisa alguma a quem quer que fosse me entristeci com o fato de que não importa o que fizesse; o quanto me esforçasse minha criação se sentiria eternamente desgostosa. Apesar dessa minha desilusão levei a vida adiante e o mesmo fez a humanidade, lá pela segunda metade do século 20 com o consumismo na crista da onda a grande maioria da sociedade nem sequer lembrava da minha existencia , e eu apesar desta desfeita me contentava em ver que estavam conduzindo suas vidas com alegria ainda que soubesse que tal júbilo não podia ser mantido por algo como o consumo, no entanto as mulheres oraram a mim em grande devoção pedindo que lhes concedesse um maior livre-arbítrio do que seus maridos as permitiam ter em suas vidas e até chegavam a queimar sutiãs em holocausto de oferenda a mim.
Como sou alem de bondoso misericordioso concedi seus desejos e sem mais tardar elas passaram a dominar todos os setores da sociedade e por seguinte remolda-la em tons mais suaves e menos truculentos o que veio a ser um grande benefício mas a misericórdia e a bondade não foram os únicos motivos que me fizeram atender aos seus apelos, o fato foi que suas pregarias me fizeram lembrar de Eva - a doce Eva da qual esculpi por meio de uma costela em tamanha perfeição que Adão não pode se desvencilhar de seus caminhos nem nenhum outro homem depois dele ainda que eles levassem ao fruto proibido. Ao contrário de Eva que que jamais procurou dialogar comigo;expor suas problemáticas e contar com minha providencia infalível estas mulheres da pós-modernidade não hesitaram em apresentar a mim a mais profunda de suas emoções, ainda que eu já as conhecesse, fazendo-me refletir como seriam diferentes os caminhos da humanidade caso Eva tivesse seguido os passos de suas descendentes. Neste mesmo período pacifistas exigiam conhecer minha face para ver se meus traços indicavam alguem que realmente premia os justos ; destroi os iniquos e governa o mundo com justiça mas refutei tal pedido como venho fazendo com todos salvo rarissimas excessões porque aquele que não reconhece minhas dádivas do ´nascer do sol até o anoitecer tão pouco reconhecerá minha face.
Nestes dias conturbados do início do século 21, com guerras em escala comercial; miséria alastrada por todos os continentes apesar de um consumismo desenfreado em patamares da qual eu jamais havia permitido antes que se alcançasse e que teoricamente deveria anular este último problema mas a criação traz surpresas muitas vezes de forma negativa como bem sabem os engenheiros e arquitetos, os anjos na mais pura curiosidade me perguntam se diante deste quadro não me apetecia destruir este mundo só para recriar um novo em seguida aperfeiçoado sem a presença do iniquo homem ?. Eu por minha vez respondo que sim mas em seguida acrescento que tal mundo seria ainda mais sem valor do que o atual sendo portanto necessário ter fé de que as novas gerações compreenderão melhor o sentido da vida, me calo por um instante para analisar minhas próprias palavras; não encontro equívoco algum nelas e penso comigo mesmo- É isso aí mesmo, não me desfarei destas ações um dia elas valerão muito e de qualquer maneira eu tenho toda a eternidade para acompanhar.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Carta Aberta ao Judaismo Liberal em Israel

A grande maioria das sinagogas e centros comunitarios em Israel pertencentes ao movimento Yahadut Mitkademet parecem muito mais com depósitos e vestibulos do que com Batei Midrash propriamente ditos. A existencia fisica dos centros espirituais deste movimento se deve muitas vezes á caridade e compreensao de certas entidades que veem no desenvolvimento do Judaismo Liberal em Eretz Israel um passo a frente rumo a equidade da sociedade israelense e o Tikun Olam. Os rabinos liberais em grande parte dos casos nao podem contar somente com o ordenado das atividades rabinicas sendo necessario incrementar a renda atraves do exercicio de suas profissoes laicas. Os administradores das sinagogas mitkademim mostram grande talento e empenho ao conseguirem adequar a escassa soma levantada com os inumeros encargos da vida judaica praticante. Estas dificuldades administrativas por assim dizer nada sao comparadas ao constrangimento que inumeros casais passam ao ver sua Chupá Liberal nao ser reconhecida pelo Ministerio do Interior, familias que veem o enterro de seus entes queridos em cemiterios israelitas ser ameaçado de indeferimento caso o processo nao seja acompanhado por uma autoridade rabinica ortodoxa, chavurot impedidas de orar ao Santissimo Bendito Seja no Kotel Ha Maaravi e convertidos sendo impedidos de se registrarem como judeus que sao no mesmo Misrad ha Pnim, em suma uma vasta legiao de judeus que se amargura com o governo israelense por este desmerecer a forma como praticam Judaismo.
Desde a sua apariçao na Alemanha durante o século 19 a Yahadut Mitkademet tem provado ser uma força judaica expressiva mas nao dominante nos púlpitos da Diaspora, seus rabinos sao muito mais conhecidos nas metropoles do Globo do que seus correligionarios ortodoxos no entanto nao conseguindo traduzir tal fato em numero de seguidores ao movimento e suas sinagogas que muitas vezes ocupam quarteiroes se assemelhando á complexos nao somam entre seus sócios mais do que um terço da judiaria local mostrando com extrema clareza o fenomeno citado anteriormente de expresividade mas nao de dominancia.
Completado 200 anos desde o advento do Judaismo Liberal o movimento tem a certeza de que as mudanças adotadas vieram em prol de uma maior visibilidade da dignidade humana tanto a nível pessoal quanto coletivo , objetivo esse máximo das mitzvot e da Lei de Moisés sendo esta a maior certeza de que o movimento continuará a florescer e se estabilizará ainda mais no seio da naçao judaica ao contrario do que os opositores predizem em falsa profecia , entretanto é preciso ressaltar que o Progressismo Judaico ao mesmo tempo que oferecia uma nova forma para o cumprimento das mitzvot (forma essa que traria melhoras ao plano em que vivemos e que por isso mesmo deveria ser imediatamente incorporada por todos os judeus uma vez que estes sao incansaveis perseguidores da meta de Tikkun Olam) nao se preocupou em respeitar a opiniao daqueles que gostariam de continuar a se nortear pela lei normativa em uma especie de coerçao na qual a propria liderança do movimento provavelmente nao estava ciente de exercer enquanto a ortodoxia se comportava igualmente insensivel á apelos que pareciam e continuam parecendo razoaveis e até mesmo aceitaveis. Por isso está na hora do movimento Liberal alcançar um amadurecimento na sua luta em prol do pluralismo religioso e ao invez de tentar igualmente obstruir a ortodoxia reconhecer que a cada inovaçao rabínica por maior que seja a justiça de sua causa e a obrigaçao moral torna seus adeptos defensores de minhaguim novos(ou seja judeus de uma classe distinta nem melhores nem piores nem mais judeus ou menos judeus) nas quais os normativos nao necessariamente tem a obrigaçao de incorpora-los.
O choque constante entre as forças liberais e ortodoxas pode e deve ser evitado para o bem de Klal Israel e ironicamente a soluçao foi apresentada por este último grupo e adotada por outros grupos judaicos divergentes da ortodoxia rabinica como os karaítas que se declararam ,ao chegar como um grupo no moderno Estado de Israel, uma Edah Acheret ou seja uma seita judaica que oficializava conversoes, casamentos, circunsisoes e enterros sendo estes reconhecidos pelo Ministerio do Interior Israelense e com direito a certo subsídio governamental.
O precedente foi aberto pelo movimento Karaita que igualmente rivalizava com a Ortodoxia e cabe agora ao bloco Reformista aproveitar essa possibilidade e zelar por aqueles que só poderao contar com os seus serviços religiosos em vez de continuar nutrindo a mentalidade megalomaniaca de que em breve a grande maioria das coletividades estará unida sob a bandeira liberal, dessa forma os criadores do movimento em seus túmulos e os fiéis de hoje em seus púlpitos regosijarao plenamente.

domingo, 3 de maio de 2009

Lábios de chicote
Lábios de chicote,
Discurso de tronco
Na qual eu me debruço.
Impressões destiladas
De teu medo,
Mal estar
Que se faz
Entre nós.
Feridas causadas
Pela verga de sua boca.
Terror
Inspirado pela calada da noite.
Aflição de sangue
Nao me escorre mais
Percorro meu caminho
Tranquilamente
Eperando
Que da entrada da primavera
Floresça nosso bem-estar.
Bastão do amor
Que bizarro!
Eu que te ofereci
O bastão do amor,
Mas recusaste,
Provavelmente
Porque entregaste sua alma
Ao machado de Ladrys
E te deixaste seduzir
Pelo arco-íris,
Então,
Se assim lhe encanta,
Que procure o amor
Que melhor
Te encaixe.
Se preferes
Como sua forma de expressão
O triângulo rosa
Da perversão,
Ao invés
Do bastão do amor,
Que assim seja!
Chama da lembrança
Nos tiraram
As simples areias do deserto,
Mas que para nós
Reluziam a ouro.
Mesmo longe,
A chama da lembrança
Não abranda,
A fogueira da nostalgia
Não se apaga.
Naquele monte de nada
Estava o tudo que nos fazia.
Hoje no meio do tudo,
Não vejo
O que possa completar
O vazio do nosso nada.
Terra perdida,
Cultura varrida
Para debaixo
Do tapete
Da ignorância
Das pessoas.
Grande Nação Brasil
Desde as caravelas do descobrimento,
Em seu rancor
Da Europa abusiva,
Juraste
A Metraton
Que este novo país
Seria diferente,
Que sua gente
Seria recebida
No batuque do amor,
E que renunciaria
Ao veneno da violência,
E que todos se sentariam
Sobre uma única mesa,
Cujo pano
É estendido para todas as nações,
Cujos pratos são servidos
De misericórdia e clemência.
Nessa melodia
Ainda dançamos
Esse grande nação Brasil.
Dinheiro Ilustre
Dinheiro ilustre,
Nos veste de rei
E nos arranca até o ultimo de nossos suspiros de admirição,
Cobre meu horizonte de mágoa
E deturpa meus valores.
Demônio de cifras,
Que quando eu estiver com meus bolsos cheios,
Espero que eu seja digno de estar
Ao lado dos homens mais simples
Deste universo,
E dizer a eles
Que ainda há compaixão dentro de mim,
Demônio de cifras,
Traga meu conforto,
Mas não me tire a dignidade,
Jamais.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Promessas


Promessas ecoam no tempo
A incompreensão os acompanha
Lado a lado
Como uma velha senhora
Talvez não tão gentil
Mas tampouco apressada
Não foi ontem que o sol prometeu iluminá-las?
Mas, o sol de fato existe,
Ou é o brilho de sua imaginação?
A espera de algo que o motive?
Promessas continuam a ecoar no tempo
E sua esperança é cada vez mais
Incapaz de se pronunciar
Será que tamanha glória imaginada
De fato existe?
Ou é o devaneio que ecoa no tempo
Lado a lado com as promessas?





Senhorzinho



Senhorzinho
Com o seu olhar despreocupado e atemporal
Como o das crianças
Assentou-se em um ambiente pacato
Tinha conhecimento de causa
Sobre os segredos divinos
Senhorzinho
Delicia-se com seus prazeres
Mas não com simples prazeres
Prazeres dotados de originalidade
Concedida por Raziel
Contava suas histórias
Mas não simples histórias
Histórias reveladoras de mistérios
Que despertam prosperidade
Nas considerações alheias
Senhorzinho é um anjo encarregado de zelar por nós
Ou está possuído por benevolência?
De qualquer maneira, não é como nós
É a primazia no tratamento
Põe-se a seu dispor
Na corrente de sua fineza
Que o prende
Na impureza de nossas idéias





Bem-amado


Mão firme e justa
Compra a retidão
Apostando no futuro
Para devolver sonhos floridos
Outrora destruídos
Pelas chagas da cegueira humana
Aquarela que precisa ser colorida
Mas que nos colore também
De vivacidade
Nos largos saltos entre as nuvens do paraíso
Agosto que confirma a excelência dos homens
Bom trato na fineza de sua risada
Cirurgião de imperícias
Das palavras
Que destratam no pessimismo
Do sol ardente
Consulta de corações fatigados
Pelas incertezas da vida
A iniciativa da prevenção de horrores sociais
Eu já disse
E você já sabe
Bem-amado por nós você é



A vida



A vida insiste em fazê-lo de idiota
Mergulhou na face obscura de sua compreensão
Tentou desacreditar o espetáculo da vida
Pois ele não lhe foi leal
E foi desacreditado pela ironia
A vida mostrou o peso do desempenho
Mas não mostrou a sombra do descanso
Suscitou perguntas que formularam dúvidas
Sobre a tangibilidade de certos insights
Nem mesmo seu ego
Recém liberto da sensatez
Pode lhe proporcionar
Satisfatória explicação
Tapeado pela vida
Não soube seguir
O rumo ao qual se propôs
Foi marionete de um destino
Incompatível consigo próprio
A vida
Ventríloquo de tristezas e desgostos
Forçou-o a dançar o ritmo de sua coerção
Cordas manipuladoras de covardia, desencorajamento e pouco caso
Encurtavam seus passos
E o atavam, temia que para sempre,
A esse ventríloquo visionário da tristeza mais pura,
E por vezes sádica, que é a vida.


Engenheiro da desarmonia



Construiu a ilusão
Na argamassa da distância
Arquitetou seus problemas
Com ângulos desequilibrados de visões impostas
Deu formato ao seu desespero
No círculo vicioso de uma espera desregrada
E também
Na crença de que aquele que lavra a terra obterá a safra
Pois arou o planalto de seu orgulho
Com a enxada desvelada de brilhantes previsões
Mas, essas foram suplantadas
Por este mesmo círculo que lhe inflamava a angústia
Projetou o insucesso
Com as vigas de desamparo
Dedicou-se à engenharia de planificação detalhista do masoquismo
Jogou a isca
E foi fisgado pela tragédia
Pavimentou a trilha da separação
Entre o desejado e o asqueroso
Sinalizando em si próprio o perigo de seu autodesprezo
Através de um olhar distante
Na multidão, que contornou sua insignificância,
Foi engenheiro da desarmonia


Dieta indesejada



No delírio dos indesejados
Serviu-se do primeiro aperitivo
Explorou tudo o que lhe permitiam
Encaixou o gancho em seus orifícios
As bases tremeram
A vida fluiu naturalmente
Não se conteve
E buscou o banquete outra vez
Fartou-se na delicia de seus prazeres
Cada abocanhada trazia novos sorrisos
Em um ciclo de contentamento
Que se reiniciava a cada extrato alvo
Expelido pela manipulação da lingueta
Reguladora do paladar
Já sem fome
Mas dotado de gula
Apossava-se das refeições
Às vezes duas de uma só vez
Apetite voraz
Comeu o que pode
E foi-se
Só não sabia que sua carência alimentar
Era causada pela ausência de nutrientes carinhosos
Em sua dieta alimentar
E voltou à dieta indesejada
Delirando por um prato
De sustância constante



Conta no Inferno




Confiou o saldo de sua vida naquelas mãos
E foi retribuído com o capital final da exposição desnecessária
Jurado pelo descuido
Duplicou a sua insegurança
Taxaram-lhe a irresponsabilidade nominalmente
O tempo veio cobrar sua vergonha
Em uma carta
Velaram seu sano julgamento
Que foi na contramão do bom senso
Por confiar no mercador local
Foi à bancarrota
Liquidou sua polidez
Abriu conta no inferno de preocupações
Banqueiro endiabrado
Recebeu-o pessoalmente
Prometeu-lhe soluções para os valores cobrados
Possuiu-o por completo
Esteve em suas mãos
E o fez dever-lhe a paciência e o carinho
Frente à família
Assinou promissórias
Renunciando à clemência
E pertenceu à raiva
Esse banqueiro que institui
A cólera da alma

Comentários alheios



Comentários alheios complexaram sua razão de viver
E tocaram acordes de desencanto em sua psique
Aprisionaram-no no calabouço da inferioridade
Apedrejaram sua resistência mais intimista
Encurralaram-no no canto da melindrice
Aspiraram à genialidade contida na meiguice do abraço inclusivo
Para substituí-la pela brutalidade
Do toque discriminado
No calabouço, ratos noturnos que são esses comentários alheios
Roeram a mortalha de sua robustez
Para se transformarem em aranhas
Que teceram o cobertor de sua atonia
E depois foram maestros que regeram torturas
Cujas notas formularam a partitura de seu abalo psíquico
E foram também os algozes que deceparam sua cabeça
Insinuando que suas idéias jamais agradariam
Á coroa que o aprisionava no calabouço
Pois, segundo os comentários alheios,
Ele era a abelhinha que zunia sutis zombarias
Impondo sutileza nos maiores ultrajes
Como um urso em que a camaradagem se desfaz no aperto de seus braços
Essa coroa que lhe aprisionava
A tal da sorte não convencível
Resoluta em apoiar causas ainda mais ultrajantes



A vendeta


A vendeta chega a ser mais doce que o beijo?
O arquejar de palavras que não se sustentam
Na falta de convicção do seu sonso caminhar
Ela atravessou o corredor espremida entre o desconhecido e a vergonha
Ou foi entre o desejo e a hesitação?
Desviou o olhar como se indignada por uma suposta indecência
Ou foi por uma suposta ousadia?
O rapaz almejou ser ousado também
Ainda que fosse pela última vez na vida
Mas percebeu que não seria ainda desta vez que a alegria compactuaria com ele
Teria sido uma brisa de curiosidade que a teria levado para além de seus domínios?
Ou simplesmente o latejar de esperança de uma doce surpresa
Que baixaria a guarda de seu orgulho?
Voltará ela a se aventurar pelo corredor da ansiedade,
Mas pelo menos não tão desconhecido?
Se depender do rapaz, que ela venha como o crepúsculo
A primeira animação e o avivar do dia
Pois ele é uma sentinela prestativa que se posiciona no corredor
Avistando-a de longe, tentando garantir o seu bem-estar
E depois da conturbada volta ao corredor por vezes encorajador,
Outras vezes amedrontador, a pergunta volta a planar no ar
A vendeta chega a ser mais doce que o beijo?


Maturidade


A maturidade foi uma correnteza fraca demais para que ele a seguisse
Foi uma chuva tropical, que por diversas vezes precipitava-se e findava rapidamente
A falta da maturidade foi o mecanismo desarmado do seu senso de realidade
E sua mazela mais impressionante
Madurou o verde amargo de seu comportamento
A falta da dita maturidade parou os ponteiros de seu relógio
E a noite e o dia já eram irrelevantes
Foi o instrumento da vez para melindrar o pensamento racional
O vagão que o levou ao encontro do surrealismo
A imaturidade foi um ator talentoso que atuou maravilhosamente bem
Com a abordagem derrotista sobre ele
Apavorou-o em um palco de pouco brio, por onde andou
A tal imaturidade desbotou suas tonalidades alegres
Foi o símbolo da derrocada antes da primeira tentativa
Foi o discurso não afinado com o bom senso e a simplicidade
Foi o arrependimento no destempero de certas ações
É sua perturbação constante
Como se escapa a ela que permeia como a erva daninha?
E é mais clara ( perceptível) que nosso reflexo (propósitos nesse mundo)
Por quanto tempo ela ainda há de projetar
Sombra sobre o desabrochar contido?
Na entrada de cada novo dia o fulgor da manhã traz a oportunidade de vendeta
Da mente sazonável sobre o passado imaturo



América abençoada




Junção das proezas universais
Águia de olho aguçado
Visionária da prosperidade
Orgulhe-se nação de vanguarda
Pois tu és a garantia de que o homem não caminha em vão
América abençoada
Na batalha de rendição de Yorktown, a águia deu seu primeiro voo
Para um destino de supremacia orientado pela consciência
Liderança nata e merecida
Entre a boçalidade das nações do mundo
Thomas Jefferson, o profeta da liberdade
Confeccionou a mensagem de esperança em dias melhores
Na nova bandeira rubro-azul
Povo heróico, transpôs a sombra da tirania
Prescreveu ao mundo a receita do bem-estar
Na crescente fertilidade de suas idéias
Que justificam sua fabulosa existência
O tio Sam percorreu o mundo recrutando a persistente crença
Da soberania dos povos sobre seus destinos
Golpeando abusivas presenças vermelhas
E barbadas na intolerância da lua crescente
Entre outras forcas incorrigíveis
América abençoada, continue a atuar com grandeza no palco global
Frente à dramaticidade crônica
De um bloco envelhecido unificado somente pelas cifras do Euro
América abençoada, ainda mais sucessos inigualáveis te são rogados




Ramalhete violeta




Em poucos dias
Ele se desafiou a lograr o inimaginável
Comandou uma severa determinação
Que se pôs a seu serviço
Interessada em frustrar a estática posição
Que lhe governava autoritariamente
Foi atrás daquilo que exercia fascínio sobre si
A mulher de um fino espécime
Um ramalhete exótico no topo de uma alta montanha nevada
Até então o contato com ela tinha sido como uma nevasca tenebrosa
Pouco agradável e sempre se esperando que terminasse sem mais tardar
Para subir os picos nevados de sua incompreensão
Requeria-lhe olhar além do ponto de imaginação dos medianos
Pois sua beleza é reservada àqueles que chegam alto
Àqueles que visam às maravilhas possivelmente ocultas no cume nevado
Ela é o ramalhete violeta que recompensa aqueles que ousaram desafiar
O frio da altura que os separava e o temor da caída nas subidas puxadas
Ramalhete violeta, atreva-se a revelar sua peculiaridade
Em um mundo alvo morto e congelado, sem deixar, contudo, de ser recatada
O inimaginável aconteceu, o rapaz colheu o ramalhete e esse tornou exuberante
Outro cantão gelado, que era seu amor
Essa mulher realmente foi um fino espécime
Que soube plantar determinação em sua escalada



Novo reinado




Bolinaram o heroísmo contido em pensamentos mais iluminados que a coroa
Para aprovarem circunstâncias onde o domínio de prazeres simplistas e mundanos
Eram o brasão e o emblema do novo reinado
Este já composto de gargalhadas desprivilegiadas de espiritualidade
Não se contiveram em fustigar a refinação de sua articulação
Apressaram-se a sorrir maliciosamente no tropeço dos bons modos
Nomearam a estupidez como representante do novo reinado
A erudição foi declarada improdutiva
E suas obras foram conduzidas ao pelotão de fuzilamento
E se ousassem sobreviver seriam incineradas pelo clímax popular
Já agradada pela descomplicação dos temas relevantes à vivência humana
Trazer trocados para casa foi considerado a obra prima da sociedade
Ao desenvolver ideias, já comentavam a penúria de sua situação
Coitado é doente da cabeça para rirem em seguida com desaprovação
Os valores se desintegravam como em frações simplórias
A caneta só firmava documentos que sentenciavam á morte
E não mais a arte literária
E desde então versos de desordem foram organizados
E compilados no senso comum
Para o triste desmoronamento do novo reinado

































Uma temporada




No primeiro dia no hotel, o homem perguntou como se satisfazer e o recepcionista inexperiente olhou sua colega próxima e o hóspede pensou ter encontrado a excelência hoteleira.
Desfeito o mal entendido, o homem se curvou pelo desejo ainda não realizado, mas o acanhamento não o impediu de buscar a satisfação em outra recepção qualquer, dessa vez na cidade maravilhosa.

No segundo dia, a reserva se confirma com a chegada da hóspede, que zela pelo conforto de seu marido e pelo seu próprio, perguntando ao recepcionista se as camas estavam ajeitadas apropriadamente.
O recepcionista, acreditando que todos os casais gostassem de formar um ninho de amor em seus leitos, afirmou que a cama havia sido preparada para o casal.

A mulher fitou-o ardilosamente como se, já na chegada, tivesse a certeza de que sua estada seria irremediavelmente frustrante, e ordenou ao prestativo rapaz da recepção que reorganizasse o quarto com duas camas de solteiro, o mais rápido possível.

O recepcionista, diante do pedido incomum, duvidou de suas próprias faculdades auditivas e mentais e por isso ousou desafiar o código de normas de sua profissão, soltando uma pergunta tão idiota quanto desafiadora á mulher: “Você tem certeza”?
A pergunta havia sido idiota por não ter ele acreditado na seriedade da declaração da mulher, e desafiadora, por ter julgado a opção dela inadequada antes mesmo de saber as razões que a levaram a pedir as duas camas de solteiro.

De qualquer maneira, a pergunta se desfez na seca contestação de que era isso mesmo o que ela desejava, tendo que engolir em seco e com certo embaraço tal contestação.
O recepcionista se apressou em atender ao pedido para satisfação da hóspede. E pensou que seu marido fosse talvez um passarinho que fizesse muita algazarra no ninho, ou cantasse infiéis melodias para outra passarada, ou forrasse outros ninhos por aí.

No terceiro dia, foi constatada a necessidade de maquiar as imperfeições que o tempo trouxe à fachada do edifício que tanto se deleitou na presença de beldades escandinavas; , da sensualidade latino-americana, que se recusa a ser ocultada em roupas recatadas; da espontaneidade da cor africana, que aflora no toque insinuante de madames que cantarolam seus vocabulários; da exótica e miúda presença de senhoras da terra do sol nascente ou dos tigres asiáticos.

O pessoal da manutenção do hotel considerava-se um grupo de artistas, cirurgiões plásticos cuja missão de rejuvenescer e embelezar a velha fachada lhe fora encomendada. Subiam enormes alturas através dos andares especiais montados especialmente para eles, e de lá do alto, com a visão plena sobre os agora minúsculos pontos que se movimentavam pelas ruas, compreendiam que a imposição de classes sociais era só um recurso psicológico para assustar e magoar algumas pessoas, pois em um possível pensamento maldoso poderiam julgar estes pontos abaixo de seus narizes como baratas perniciosas e descartáveis na sociedade, e também podiam ver com extrema clareza o que movia os passos da multidão: alguns adiantavam seus passos por pressa; outros, por orgulho; outros, ainda, pelo puro desespero de não saber armar uma reação contra o cheque-mate que almejava a vida lhes impor e que por fim causava auto-desorientação.

O staff da manutenção desejou estabelecer suas moradias na paz das alturas; não uma altura qualquer, mas sim essa altura que haviam conhecido no cumprimento do dever e que pode não ter trazido a igualdade social, mas lhes restituiu a dignidade.
Por essa tal dignidade, trabalhavam com tamanha gana que superavam em produtividade o império nipônico e abriram mão de sua própria segurança para voltar a sentir essa soberba sensação.

Dentre eles, destacava-se um homem chamado Toninho, que era conhecido por seus colegas como uma personalidade extremamente vibrante apesar de todas as adversidades que o destino havia lhe reservado. Era analfabeto, retirante do sertão baiano e conheceu a desintegração familiar desde a sua mais tenra idade. Em seus trabalhos, carregava o peso além de suas responsabilidades, apesar de seus humildes porte físico e posição hierárquica, o que poderia ter lhe rendido o apelido de “formiguinha”, tamanho era o seu vigor, mas o apelido nunca veio tamanho era o descaso das pessoas em seu local de trabalho.

Toninho subia os andares recusando o cinto de segurança, talvez porque, em seu pensamento, esse equipamento tinha muito pouco a oferecer comparado à sensação de estar no topo ou de estar acima do bem e do mal. Mas, o ato de subir tão alto sem o equipamento necessário e exigido pela lei, causava preocupações em certos recepcionistas que se deparavam com a cena diariamente e perguntavam a Toninho:

“Toninho, baiano arretado, não tens medo de se esborrachar no chão e virar geléia”?

Toninho respondia geralmente que a única coisa que de verdade temia era sua mulher, ou, quando queria explorar sua veia cômica, dizia que não havia problema em virar um pote estraçalhado de ketchup esparramado pela rua, ou, ainda, um piche, para ajudar a asfaltar a rua desmazelada de sua própria casa; e quando estava enfezado , queria deixar a sua marca e soltar uma frase de efeito, exatamente como fez um dia quando indagado pela milésima vez sobre o mesmo assunto: “O que eu gosto mesmo é de me arriscar, sempre foi assim”.

Os recepcionistas tiveram pena do gerente que, por trás daquela pose de homem centrado e calculista, estava à mercê dos atos impulsivos e arriscados do baiano arretado Toninho.

De qualquer maneira, não houve qualquer motivo para choro ou arrependimento, pois Toninho sobrevivera à reforma na fachada, assim como haveria de sobreviver às brigas maritais e aos terríveis planos econômico-sociais do governo.

No dia seguinte, chega um trio à recepção e solicita o check-in no nome de Walsh Tompson. O recepcionista nada encontra no sistema, e pergunta se a reserva foi feita por outra pessoa em outro nome, para receber uma negativa logo em seguida.

O recepcionista começa a duvidar da veracidade do trio dinâmico e sugere sutilmente que procurem um outro hotel, pois este já estava lotado pela semana inteira. Tal sugestão causou perplexidade no trio. E foi nesse meio tempo, entre a sugestão dada e a perplexidade gerada, que o carregador de malas, atento à situação, decidiu expor sua versão da história ao recepcionista, para que seu julgamento fosse o melhor possível sobre o caso, explicando-lhe, em dois curtos minutos, que havia estado no hotel concorrente para buscar as malas de um hóspede que estava se transferindo de lá para o hotel em que trabalhavam quando chegou um grupo de gringos, e esses três, talvez confiando na determinação e objetividade de seu trabalho, seguiram-no, sob um sol escaldante de verão tropical, sem dizer uma única palavra.

Os dois trocaram um último olhar e não puderam evitar a falta de polidez, caindo em uma risada profunda e verdadeira, pois a clareza é cômica e a dúvida é trágica, e esses turistas se deixaram levar por estranhos assim como ovelhas se deixam levar por seus pastores.

Uma vez composto, tratou de explicar aos turistas o que seria óbvio para muitos, mas sempre de uma maneira respeitosa, conseguiu passar sua mensagem á Walsh Tompson, que explodiu numa risada da qual logo perderia o controle, que foi interrompida pelo constrangimento de rir de uma trapalhada cuja responsabilidade era absolutamente sua, seus dois colegas não resistiram à tentação e caíram em uma risada descontrolada e até certo ponto desrespeitosa para com seu amigo. Tomaram seu rumo para o hotel onde a reserva tinha sido de fato feita e, com certeza, aprenderam a analisar a situação da maneira mais completa possível, não se deixando levar pelo primeiro pastor de cajado desorientado que aparecesse à vista.

Na semana seguinte, hospedou-se, no hotel, um grupo GLS que sabia chamar a atenção para si . Não era a primeira vez que escolhiam ficar no hotel - a cada ano, no mês de janeiro, voltavam, para soltar as asinhas pelas ruas da cidade e comprar o suficiente para deixar um comerciante feliz no final do dia. Esse “boom” econômico comprava a tolerância também para as borboletinhas revolucionárias em uma sociedade bem discriminatória; no entanto, o staff do hotel já estava bem acostumado às revoluções do comportamento sexual do grupo, demonstradas por um carinho entre dois homens enquanto um passava o protetor solar nas costas do outro, em um beijo escandaloso no saguão, no desmunhecar da interação de uma notícia animadora e em qualquer oportunidade surgida fosse onde fosse, mas, nesse ano, souberam trazer novidades: alguns casais de lésbicas que integravam o grupo pela primeira vez causaram admiração e excitação no staff que era composto em sua maioria por homens sem vergonha e desarranjados na vida. De qualquer maneira, hospedar lésbicas foi, na consciência do staff, algo muito mais natural do que a devassidão gay masculina já aceita pela necessidade de alavancar o empreendimento hoteleiro.

O grupo GLS alternava seu tempo livre entre cachoeiras e praias, entre um restaurante de frutos do mar e um restaurante de massas, entre massagens e a piscina, entre o computador e uma caipirinha no bar e entre sunguinhas apertadas azuis ou vermelhas.
Até que um dia, um dos casais gays cansou de bater as asinhas naquele hotel e se foi antes da data prevista de saída, em busca de um novo borboletário. Então, a recepção alugou o quarto a uma européia atraente, mas pouco acostumada aos raios solares, dada a alvura de sua pele, e foi na intenção de mudar esse quadro que sua segunda ação no hotel depois de largar as malas no quarto tinha sido descer as escadas com um minúsculo biquíni azul chamando a atenção para si , para se bronzear na piscina.
Lá chegando , ocupou a única espreguiçadeira disponível, em meio a uma multidão (assim lhe pareceu o grupo GLS) que ocupava todas as outras .

Os homens mais próximos a cumprimentaram simplesmente por polidez, sem aquela malícia ou segundas intenções que os cumprimentos dos héteros apresentavam em relação a uma bela mulher. A mulher percebeu com facilidade que estes homens jamais correriam atrás dela e amaldiçoou este fenômeno assim como a guerra nuclear, a fome mundial, o subdesenvolvimento do hemisfério sul e as epidemias mundiais.

De qualquer maneira a mulher não se deixou abater pela insignificância da opção sexual de boa parte dos homens que se encontravam na sua frente e resolveu pedir uma caipirinha ao garçom do bar com o objetivo de relaxar e curtir os raios solares abundantes dos trópicos. Tomou a caipirinha com grande vontade e, em seguida, esticou seu corpo sobre a espreguiçadeira, em um indolente esforço para terminar fechando os olhos e, inconscientemente, assim julgaram todos os que presenciaram a cena, começar a esticar cada vez mais suas pernas até atingir uma conotação sexual encorajando o garçom hetéro a triunfar sobre seu corpo, agora desprotegido, enquanto as borboletas encaravam a situação em completa repulsa, como se seu corpo já sexualmente intencionado fosse uma doença contagiosa ou um fator que causasse alergia, que, por sua vez, demandasse a maior distância possível de ser alcançada. O garçom, percebendo a reação de seus hóspedes em relação à mulher, deu-se conta de que os casais se encontravam em um casulo hermético totalmente à parte do que acontecia ao redor - e não poderia ser diferente: afinal, no reino das borboletas, só tem acesso quem bate as asinhas tão escandalosamente quanto eles.

A mulher acordou depois bem exposta aos raios solares e subiu para seu quarto para apagar seu fogo sozinha e apressadamente.

O gerente admirou a completa falta de intenção em seguir os parâmetros ditados pela sociedade e simplesmente se dedicar a prazeres pessoais sem se preocupar se as conseqüências de seus atos trariam desprezo ou distância aos olhares alheios e jurou perseguir a mesma liberdade vista no grupo. Naturalmente, não se tratava de opção sexual, mas daquela coragem de enfrentar Deus e o mundo para poder, enfim, concretizar seus desejos particulares – de todo modo, nunca compreendera o porquê de continuar trabalhando em um local que passava 10 meses se preparando para o grande desafio de receber toda uma multidão nos dois meses de verão, numa cidade onde o melhor compromisso cultural é degustar as mais variadas cachaças em goles que derrubam o bom senso com extrema facilidade; em que, aos domingos, o melhor programa era saber diferenciar à qual igreja pertencia as badaladas agudas dos sinos espalhados por toda a cidade.

Mas, sim, compreendia o porquê de ter aceitado o emprego – afinal, desempregados não são homenageados com nomes de ruas ou avenidas, com a construção de estátuas brilhantes e tampouco com a chave da cidade , e, para completar sua análise: visões particulares não pagam contas e não garantem o bem- estar.

Influenciado pelo comportamento revolucionário, um misto de anarquia e sarcasmo frente aos legisladores da escravidão espiritual, o gerente resolveu dar um novo formato a sua vida - suas atitudes seriam, a partir daquele momento, desprovidas de qualquer bom senso.

Sentiu-se muito mais leve e dinâmico no inicio, mas, com o passar do tempo foi perdendo as estribeiras e ultrapassando os limites, transformando-se no revolucionário mais perigoso daquelas bandas. Alguns chegaram a comentar que ele já era o revolucionário mais influente do século 21, enquanto outros já matutavam se valia à pena revelar seus pensamentos como nem Che Guevara, nem Ho Chi Minh, nem Fidel Castro ousaram, antes da fama, e desafiar com tamanha intensidade os bons costumes do local em nome de uma angústia pessoal.

Acordava com a mão no gargalo de pinga, cambaleava pelas ruas em plena luz da manhã; entrava nas lojas de roupas caras experimentando camisas e gravatas, levando-as, por fim, dentro de seu bolso comprido, sem deixar o pagamento nem gorjeta para a atendente, que, por sua vez, caçava-o por toda a cidade para exigir o resgate de sua honra, acusada que era de ter sido conivente; comprava charutos cubanos para tragar a indelicadeza da vida em uma pose reflexiva e sofredora na sua poltrona predileta; levava seus cachorros para passear no hotel e dava-lhes banho na piscina do hotel; arranjava um bico de garoto propaganda de vinhos chilenos, invadindo bufês completamente alcoolizado e saltitante, garantindo a aquisição da felicidade com seus produtos; com a desculpa de garantir a qualidade , começava a vasculhar todo o hotel como um peão ensandecido e acaba vasculhando por demais a vida de uma hóspede casada, para desagrado da mesma.

E vieram os dias de depressão e declínio, em que a revolução já havia conquistado seus simpatizantes e feito seus desafetos, marcado sua mensagem e perdido completamente a razão na sociedade. O revolucionário revolvia-se na cama, enquanto a consciência fazia-lhe o favor de devolver-lhe o bom senso, até que seu irmão caridoso arranjou-lhe algo para gerenciar em outras bandas, e ele se foi, para a sombra e água fresca.

No mês seguinte, hospedou-se no hotel importante ativista de movimento pela justiça social. Veio acompanhado de esposa, filhos e sua careca, barba e brincos, que compunham seu disfarce para produzir matérias no submundo carioca.

Muitos o admiravam, seja por ter superado sua infância desfavorecida, ou pelo fato de, atualmente, desfrutar de uma vida burguesa sem ter deixado de ser um ídolo nos morros cariocas. Fez-se na televisão apresentando problemas sociais e suas soluções, programas que as madames desconheciam por estarem ocupadas demais vendo suas novelas e os pais de família desse país, por se preocuparem com a rodada do campeonato de futebol.

Na televisão, tudo o que tinha que fazer era continuar a tolerar os malandros dos morros e penitenciárias que havia conhecido na infância, e, no hotel, tudo o que os funcionários precisavam fazer era continuar a tolerar os mandos e desmandos do malandro reformulado, como tantos outros que haviam conhecido durante suas vidas profissionais.

No festival de cinema, hospedaram-se no hotel atores famosos que estão se destacando no cenário atual da teledramaturgia brasileira; uns são galãs; já outros, são atores talentosos de grande presença; outras, são filhas de grandes artistas que ajudaram a formular um produto cultural genuinamente brasileiro e que, pela relação familiar, jamais seriam esquecidas pelos holofotes da mídia.

O galã, em sua estada no hotel, interpreta o papel que mais exige de seu talento: o de um robô que deve agir friamente com tudo e todos e não deixar de modo algum transparecer suas emoções, tanto na vida afetiva quanto na profissional, e para suportar tamanho fardo, conta com a ajuda de seus óculos escuros e dos atores coadjuvantes do staff que evitam qualquer contato entre ele e os “paparazzi”, garantindo por fim sua atuação impecável e a deixa de que merecia um Oscar por atuação tão dificultosa.

A filha de grande artista, acostumada a grandes escândalos e declarações polêmicas seguidas de retratações por parte do pai, durante sua estada limitou-se a escandalizar dentro de quatro paredes, somente se é que o staff tinha o direito de imaginar problemas com uma personalidade complicada durante uma calma estada.

As atrizes musas eram tão agradáveis que o recepcionista desejou com toda sua vontade ser escalado como par romântico em uma novela de época.

Um ano inteiro se passou, o recepcionista quis apreciar novos horizontes e se demitiu para ser substituído por outro que, após um ano, demitiu-se também, tendo chegado à conclusão de que fora, durante o exercício de sua função, arquiteto de sonhos alheios, testemunha de uma época que, em breve, seria esquecida e, por alguns momentos, teve a desagradável percepção de ser um mico adestrado.
Tempo que passa




Tempo que passa
Mão que desarma
Navalha que atravessa a carcaça
Gosto desfeito
Desgosto que afia
A faca sobre seu peito
Concussão de suas ambições
Fogueira da vaidade
Que queima seu ego
Sem nenhum respeito
Água ardente
Fogo da maldade
Que lhe consome
Em um domingo deprimente
Tempo que passa,
Mas não transforma
Tempo que lhe engole
Com(o) as areias de seu deserto
Fulgor inibido
Na certeza de seu não vir




A chuva caiu sobre nós




Caminhaste pela fina ponte da ambigüidade
E tua moral caiu
Lá embaixo,
Desequilibraste o esquelético e definhado
Lado da alvura
Pisaste no cadáver da moral
Com a intenção de alcançar as nuvens
E os anjos atentos a teus passos
Caíram no pranto
E a chuva caiu sobre nós



Figuras Messiânicas




Sorriso afável
Mão calorosa
Olhar atencioso
Apoio que se paga de volta
Em um aperto de mão
Interesse que disfarça o desinteresse
Que nasce no outono do hemisfério boreal
A cada quatro anos,
A atenção concedida
No esvair da vida
Que demonstra a chegada desta estação,
Estabelecem a união
Frente à desilusão
Da falta de atenção
Concedida à população
Ao longo de gerações,
Figuras messiânicas
Que, com suas lágrimas de lamento jorradas,
Brotam o emaranhado de flores de zelo
Que ao público são oferecidas
De mãos abertas
E, então, é acertado
O esquecimento por três anos







Aroma divino






Na ausência de acasos e coincidências
A língua sagrada mostra
Os caminhos que nos levam ao encontro do amor
Através de suas letras com significados ocultos,
Na sabedoria celestial
Ahavá é uma flor
E dela exalam
Os perfumes de Ichud
De Havana
De Biná
E de Hitconenut
Neste aroma divino
Emerge o conhecimento amoroso
Que serve melhor
A nossos propósitos
(Do) Que a simples vaidade da conquista


אהבה- - Ahava- Amor
א- איחוד- -Ichud- União
היתכוננות- - ה -Hitconenut- Preparação espiritual
בינה- - ב - Bina- Sensatez
הבנה- - ה -Havana- Compreensão mútua








Ventos de eventos





Suas emoções interiores
São sacudidas
Pelas agitações dos ventos
Que lhe tomam de percurso
Ventos de eventos
Que estremecem
Os galhos de seus julgamentos
Que movimentam
A gangorra de seus pensamentos
Ventos de eventos
Que sobem
Por todos os andares
De seu bom senso
Ventos de eventos
Que tomam partido
De um lado
E desequilibram
O cabo de guerra
De suas decisões



Saliva de tua mentira





Os homens dão as costas ao humanismo
E só lhe estendem as mãos
Quando o peso de suas ações vilíssimas
Ameaça trazê-los de volta
Ao pó da terra
Vencidos na poeira do desalento
E iludidos em falatórios
Cuja verdade é diluída
Na saliva de tua mentira,
Na avidez de seus seres,
Agarram-se às mais doces e pérfidas
Promessas de redenção




Completa felicidade





O sonho é um sexto da profecia, segundo o livro do esplendor
Assim sonhamos até o limite da racionalidade
Na espera de que consigamos a fração completa
De nossa felicidade
Em todo o mundo
Não há infortúnio pior ou maior
Do que Rahav impõe
Esse anjo insolente
Que arranha nosso ego
E pune de acordo com o prisma celestial
Negligenciamos os propósitos celestes?
Então, por que , crocodilo de lágrimas falsas
Pois é a insensibilidade que te caracteriza
Coloca-nos no jugo de sofrimentos
Que ofuscam a beleza da aurora?
Não nos diga
Que tem de ser como as mazelas
Do Egito antigo
Porque agora nossos sonhos
Vão além da racionalidade
Para que obtenhamos
A nossa completa felicidade





No vale da divina atração





No vale da divina atração
Onde o amor era conduzido de boca em boca
E eletrizante convivência surgia entre as pessoas
Sua imaginação nunca pode chegar
Por hora
Encontra-se no lodaçal do marasmo
Onde a zombaria do silêncio
Atola-o um pouco mais
Minuto a minuto
Esse silêncio,
Que diz muito na verdade,
Forma sua concepção
Sobre como conduzir
Energia vital
Pelos circuitos inconduziveis da solidão
No curto-circuito de suas emoções
No vale da divina atração
Onde múltiplas correntes percorrem seus caminhos
Na certeza da abertura de seu âmago-sistema enigmático
Tal como o amor: confiança,
Perseverança, e, então, é carregado por harmoniosa vivência




Jugo animal


Rugido de leoa
Que neutraliza suas defesas
E depõe contra sua realeza
Sob seus próprios domínios
É o seu falar
Precisão de águia
No apanhar de sua vergonha
E no arrebatar de sua tranqüilidade
É o seu olhar
Mordida de cobra
Cujo veneno de destempero flui
Em suas veias dilatadas de raiva
Dente cravado na incompreensão
Que custará a cicatrizar
E reviver a calmaria
Será o seu escutar
Fuga de ratos
Temor incontrolável
O passar dinâmico
Fervido pelo calor de sua consciência
Consciência renovada
Pelo amanhecer de um outro dia
Será o seu sentir
Jugo animal
Nas veredas da selva da vida




Malandragem



A pobreza é a seiva da malandragem
Malandragem que pula de esquina em esquina
Marca presença no murmúrio de lamento
No fim da tarde
Estabelece suas tendas de acolhimento
A malandragem que é
O circo alegórico da sobrevivência
Palhaço espirituoso
Riso eufórico da contravenção
Alegria transviada
Afeição desinibida
Palhaço descomedido
Fundos desprovidos de seriedade
Confiança desfeita
Na frieza das dificuldades
A elaboração de palavras
Que tapam o buraco
Do tiro que saiu pela culatra
E, enquanto isso,
O verdadeiro espetáculo da vida
Passa por nós em marcha acelerada:
O despertar de nossos ideais


Exílios




Dos cativeiros da Babilônia
Tínhamos nossa lira
Para entoar a melodia da esperança
Das masmorras romanas
Tínhamos já nossos mestres-guia
Para orientar os cegos no exílio
Nos guetos europeus
Transpirávamos medo
Mas nossos olhares refletiam
Esperança na qual a lira
Já não conseguia mais nos presentear
E até mesmo na desconcentração dos campos do Holocausto,
Israel renasceu das cinzas
Em seus próprios domínios
Mas o que sucederá
Àqueles de Israel
Que nunca conheceram o toque da lira harmonizante?
Que dão passos desregrados sem o auxilio de nossos mestres
Cuja esperança foi vencida pelo descaso?
Aqueles filhos de Israel
Que habitam o pior dos exílios
O exílio da incompreensão
O exílio de suas próprias incompreensões
Ou pior, o exílio além da compreensão de D’us
Como esses israelitas renascerão das cinzas?
Se o próprio calor que as fez
É abrandado pela gélida distância
De seus próprios domínios
Estes rogam aos céus
Para que a compreensão
Emoldure suas vidas
E o exílio seja o trampolim da redenção




Amantes natos



Há tanto amor dentro deles
Que tamanho excesso
Acaba por trazê-los amargura
E por que isso se passa?
Porque amam com tanta intensidade
Que seus amores são recebidos com desconfiança
Nos corações ariscos e céticos de seus amados
Amam com tanta facilidade
Que a recusa de seus amados
É o despencar de um precipício
Princípio do fim do mundo
Amam espontaneamente
Com a mesma certeza,
De que o sol nascerá amanhã
E por que carregar nas costas
Tamanho fardo de amar sem ser amado?
Por quê? Se, ao final, o ceticismo coroa
O amante e o amado
Porque, assim como a natureza segue seu ciclo,
Cultiva-se o amor entre amantes natos
Assim é o ciclo exigido por suas próprias naturezas
E nada mais é necessário além do amor
Nem para os amantes nem para os outros



Anseios desregrados





Os sonhos alimentam somente a esperança
Os anseios são mais exigentes e de narizes empinados
E só se satisfazem quando a realidade concretizada
Surge a seus pés
Insuficientes são as ondas de dúvidas
Que com seu vai e vem
Prometem a vitória
Derrubando os pilares da hesitação
Para, em seguida, em sua retração,
Deixar-nos na umidade da espera
E dispenso a brisa inconveniente
Que insiste em carregar
Em minha direção
Rumores de temores
Mas se a terra não me traga para seus confins
Nenhuma ofensa desanimadora pode existir
Sigo o que o destino me prescreve e ofereço, de bandeja,
Tal realidade concretizada aos anseios desregrados





Esperança




Esperança
Que se renova
Infindáveis vezes
Para contrabalançar
O peso das angústias
Para anular
O veredicto de desencorajamento
Decretado pela corte da descrença
Que caminha entre nós
Assim como a sombra o faz
Dissolve o acovardamento
Nas águas da coragem,
Que afronta o descaso,
Que pisoteia o infortúnio,
Que semeia em nós
O olhar mixado
De encorajamento e orgulho
Esperança que renova
O sopro de vida






Fração completa de meu amor






O anjo da morte
Veio me laçar
E então percebeu
Que eu era demasiado pesado
Pois o peso de meu amor
Era tudo
Então congelou o horizonte de minhas emoções
Na esperança de que eu estendesse
As minhas mãos
Rumo ao calor infernal
E, desde então,
Não senti mais nada
Mas, mesmo em meu flagelo emocional,
Só lhe estendi a mão
Para esbofeteá-lo
Na esperança de que meu furor
Trouxesse de volta
A fração completa de meu amor




Lindos atributos



Eu vi no azul envolvente
De teus olhos
Tonalidades que me encorajavam
A expressar o melhor de mim
Suas tonalidades eram revestidas
De lavev- fascinação
De vedaut- certeza
De iea- adequação
De zechut- clareza
De hevzek- brilho
Lindos atributos
Parte integral de ti
Que carregas em teu nome
Cubra o mundo
Com tuas tonalidades
Para que o mesmo
Se dê conta
Da importância
Da presença de teu ser
Querida Luiza


לויזה- Luiza
ל-לבב- lavev- fascinação

ו-ודאות – vedaut- certeza
י-יאה - iea- adequada
ז-זכות - zechut- clareza
ה-הבזק –hevzek – brilho




Asa de borboleta



Asa de borboleta
Que encorpa
Nos sonhos de seu coração
Asa de borboleta
Tão delicada
Que anuncia a capitulação
Asa de borboleta
Que denuncia
Tão frágil situação
Mas que encontra sua alegria em você
Asa de borboleta
Desacreditada
Com seu vôo centrado
Alcança a sua paixão
Asa de borboleta
Depreciada
Deixou seus medos
Para trás
E traz orgulho
No vai e vem de suas asinhas
América abençoada
Junção das proezas universais
Águia de olho aguçado
Visionaria da prosperidade
Orgulhe-se nação de vanguarda
Pois tu és a garantia de que o homem não caminha em vão
América abençoada
Na batalha de rendição de Yorktown , a águia deu seu primeiro vôo
Para um destino de supremacia orientado pela consciência
Liderança nata e merecida
Entre a boçalidade das nações do mundo
Thomas Jefferson, o profeta da liberdade
Confeccionou a mensagem de esperança em dias melhores
Na nova bandeira rubro-azul
Povo heróico, transpôs a sombra da tirania
Prescreveu ao mundo, a receita do bem estar
Na crescente fertilidade de suas idéias
Que justifica sua fabulosa existência
O tio Sam percorreu o mundo recrutando a persistente crença
Da soberania dos povos sobre seus destinos
Golpeando abusivas presenças vermelhas
E barbadas na intolerância da lua crescente
Entre outras forcas incorrigíveis
América abençoada, continue a atuar com grandeza no palco global
Frente a dramaticidade crônica
De um bloco envelhecido unificado somente pelas cifras do Euro
América abençoada, ainda mais sucessos inigualáveis te são rogados


Blessed America
Joint of the universal bravery
Eagle of sharpened eyes
Idealist of the prosperity
Be proud, vanguard nation
Because the man does not walk in vain since you are the guaranty of this
Blessed America
The eagle flew for the first time at the YorkTown capitulation battle,
For a destiny of conscience-oriented supremacy
Innate and deserved leadership
Among the stupidity of the world nations
The Prophet freedom Thomas Jefferson
Prepared the hope message of better days
In the new ruby-red blue flag
The Heroic people, crossed over the shadow of the oppressive power,
Established the well being receipt to the world,
In the growing fertility of their ideas
Those justify their fabulous existence
The Uncle Sam covered the world recruiting the persistent belief
Of the people sovereignty on their destinies
Striking the abusive red and bearded presence
In the intolerance of the half-moon
Among others hopeless forces
Blessed America, go on acting with magnitude in the global stage
In the presence of the chronic dramaticity
Of an aged block united only by the Euro cipher
Blessed America, more unequalled successes are requested to you